abril 08, 2006

Black Tia

Século XIX. Dalton Mello ensina um escravo quilombola a usar uma arma. Dalton é branco. O escravo, negro. Tá, mas... Sim, é possível. Já lá pela metade do império, metade do século dezenove, muita gente estava de saco cheio da escravidão. Até o Sinhozinho Malta. O próprio Coronel Leôncio, “vilão até a medula”, estava se desfazendo de seus pretinhos. Era moda? Epidemia? Não. A conjuntura estava demasiado desfavorável ao 'pau, pão e pano'. Os traficantes de negros salgavam o preço dos seus “produtos” à medida que o café ia valorizando. A Inglaterra vivia metendo o bedelho exigindo o fim do regime escravista, dizem por motivos financeiros, mas acredito mais na sede de poder sobre várias regiões do globo.

O corpo burocrático, veja bem, muitos deles fazendeiros ou filhos de, começou a adquirir ares abolicionistas. Alguém lembra do Castro Alves? Pois é, fez fama com isso. A atmosfera de libertação gerou dissidências também. Higino Ventura nunca escondeu sua inveja do Barão Henrique Sobral, muito “relaxado” com relação a seus escravos. Segundo Higino, ninguém apanhava, ninguém gemia. Todo mundo adorava o Barão. Até a prostituta que casou com ele mas-gostava-do-filho tinha toda a consideração do mundo. Ainda assim não posso confirmar a felicidade de Sobral. Faltava-lhe alguma coisa. Não sei bem se um chicotinho para arrepiar nos seus. O tronco pode ter sido, durante um tempo, uma válvula de escape, uma terapia para feitores e barões, sequiosos de mostrar poder com violência, risadas e tudo o mais. Aqueles abolicionistas não sabiam da poesia que era dar umas porradas em neguinho frouxo.

No fim, podia bater, mas não podia esfolar. Essa era a lei. Acabou-se o que era doce. Não sei direito quem proporcionou esse demérito. A depressão que era ver aqueles escravos posando de flozô, brincando capoeira, adorando um bando de entidade impronunciável, sem poder levar uma pancadinha, começou a levar todos a repensarem o sentido da vida. Quando a princesa Isabel fez a gentileza de agitar o punho e borrar um papel com a assinatura dela chamaram aquilo de Lei Áurea. Áurea quer dizer magnífico, ditoso, esplendoroso. Só que é mais um erro crasso na História do Brasil. Todos estavam mais é pensando e falando em “auria” que quer dizer fugir alucinadamente. Mas a abolição se processou em slow motion, e acreditam que ela nem tenha terminado de estender seus efeitos. Como diria a persistente Tia Nastácia, às 9 da manhã de um dia qualquer no século XXI: “Ainda levo Rabicó pro forno”.

Nas comemorações do dia 13 de maio, Xica da Silva dá declarações escandalosas em entrevista coletiva.

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