abril 24, 2006

Finalmente um texto auto ajuda. Confira.

Filantropia cultural
(23 de abril de 2006)

Vou descrever mais ou menos o que vi hoje à tarde. Domingo. Quatro jurados numa sala e, para um candidato por vez, há um espaço para que ele possa desenvolver um número: com dança, coreografia, música, voz, enfim, o que der na piriquita. Os jurados estão ali para caçoar deliberadamente de quem é ruim. Como quase todos são fatalmente terríveis, o júri é quem concorre para lançar o julgamento mais incrivelmente pedante. Ali tudo é pedante. Até as cores escolhidas para o programa. Voltando a falar dos jurados, estes estavam usando roupas propícias para um churrasco na porta de um proibidão, não para promover a carreira artística de alguém. Com tudo preparado de muito mau gosto, esse programa me começa mostrando uma série de pessoas se constrangendo pra valer a troco de uma opinião ignominiosa. Quer saber o nome do programa? Ídolos. Desonesto? Nenhum pouco.

Todos nós somos totalmente responsáveis pelo o que fazemos, inclusive por promover uma realidade indecorosa como a programação dominical da televisão aberta. Quem foi que te obrigou a ir parar naquele palco mostrando o quanto a vida pode ser triturável? Tu e a tua maldita, porém certeira, intuição de que vais fazer sucesso. Digamos que acabou, tu não foste escolhido, voltas para de onde nunca devias ter saído e estão todos proibidos, sabe-se lá pelo quê, de tirar uma gracinha com o que te disseram os jurados. Achas mesmo que Brasil todo não fez troça com a tua cara? Ainda assim, tu não és o pior da cambalhada toda. Imagina a mente de quem se divertiu contigo. Ele te achou um pateta, um laranja, no mínimo. Não. Tu não és nada disso. Tu estás a serviço da nação, sabe por que? Porque a tua apresentação prova internamente para cada um que está assistindo uma sensação de alívio. Aquele que ri às tuas custas está pensando nele mesmo. Tu pagaste um mico que o livra, por ora, de ser o mais idiota da comunidade onde ele vive. Claro que a tua ação se estende a lugares onde nunca achaste que ias chegar. Como todos são quase fatalmente idiotas, teu sucesso está garantido. Pensa bem. Pinta teu cabelo. Muda teu nome. Faz uma prótese de ouro no dente. Volta ao programa. Daqui a pouco, quem sabe, já estás viciado nessa filantropia cultural.

O atual ídolo Luís Inácio Lula da Silva começou a carreira como ator na rede mexicana El niño.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

é aquela coisa: cada um sabe como se vende e onde se vende (consequentemente, pra quem).

todos os dias nos vendemos de uma forma ou de outra. as mídias (entenda-as como meio), estão aí para isso. os fins as justificam :P

(cada um engole os meios e os fins que sua vã filosofia permite. os estômagos decidem quanto de sangue desejam ver espirrar do circo)

por sorte ou azar de alguns, o desfecho, às vezes, não é o mesmo do planejado, lá no início.

sabe, o que me faz refletir, quando vejo um programa dessa natureza (que passa diariamente, todas as noites, se não me falha a memória): qual o meu picadeiro e de que forma estão me jogando tomates na cara?

ótimo texto, natália. beijão.

4/27/2006  

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