Antropofagia, preguiça e Chopin
Foi o primeiro post do extinto outrasmofas.blogspot.com.
Pater Patriae
Eu não sei, juro que não sei, porque essas idéias abjetas foram por água abaixo. Os antropólogos atuais, sempre partidários da valorização humana, querem nos amputar o direito de nos sentirmos inferiores intelectualmente. Ora, os iluministas cantaram a pedra muito antes e disseram sinceramente que estamos presos num "vício radical" que emperra o progresso (a não ser o demográfico). Isso não é de todo o mal. Se estamos escusados até biologicamente (Ver texto acima), pra que se desesperar e tentar mostrar serviço pros outros? Se por um lado nossa mediocridade mental faz a nossa fama, não podemos negar que gozamos da felicidade natural, inocente e porque não débil dos habitantes de clima fértil. Nossos bosques têm mais vida e nossas vidas mais amores... Na ausência de curiosidade sobre o que há de verdade nesses bosques, agimos em total concordância com primatas menores, só que cheios de sentimentos, os tais amores.
Muitas das nossas atitudes mais banais não foram compreendidas por muitos europeus que tiveram a audácia de vir estudar o que era o Brasil. Fomos classificados como cruéis por Fernão Cardim, um abelhudo do século XVI, que escreveu depois de observar o cotidiano aimoré: "quando tomam alguns contrários cortam lhe a carne com uma cana de que fazem as flechas, e os esfolam que não lhe deixam mais que ossos e tripas. Se tomam alguma criança e os perseguem, para que lha não tomem viva lhe dão com a cabeça um pau; desentranham as mulheres prenhes para lhes comerem os filhos assados". Isso é família, pôrra. Alguém tinha que dizer para ele que somos bons selvagens, não carniceiros irascíveis. Agora vem uma pergunta pretensamente sabichona: como chegamos dos ossos e tripas ao Machado de Assis? Simples: momentos raros de insistência ultra-teimosa e besta. Ela pode nos arrastar ou para a eleição de um Efelentífimo Presidente ou para o germinal de um Memorial de Aires. Oito ou oitenta. Entendeu? Não?
Então toma:
"PIMENTA BUENO: O Brasil é um terreno estéril! Aqui não brotam idéias! O Brasil murcha a imaginação, resseca o estímulo intelectual, definha o raciocínio! O país inteiro vale menos do que o Estudo número 3, opus 10, de Chopin!" (Diogo Mainardi. Contra o Brasil.São Paulo: Companhia das Letras, 1998)